COMPARATIVOS/TESTES TRANSALP

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Senegal 2011 - o regresso

 Dia 18, oitavo dia de viagem, 350 km,s, acordamos cedo para tentar passar a complicada fronteira mais rapidamente, mas cedo nos apercebemos que ia ser igual e demoramos cerca de seis horas para entrar na Mauritania, a única diferença foi que tivemos que pagar muito menos do que na ida.
Já tínhamos atravessado a Mauritania de noite e por isso já não era novidade para nós e lá seguimos até á capital Nouakchott.
Apesar de já ser de noite conseguimos descobrir uma realidade diferente na capital, numa zona com hotéis de luxo e bons restaurantes, no primeiro que entrei fui seguido por um segurança até á recepção e foi-me dito pelo individuo que não havia quartos, enquanto olhava de cima abaixo para o meu aspecto "vagabundo", foi engraçado.
De seguida encontramos um restaurante fast-food "american style" e nem queríamos acreditar, comemos hamburgers e pizzas até não poder mais e ainda tivemos a sorte de o dono pedir a um cliente habitual que nos levasse a um bom hotel, por coincidencia o homem já tinha estado de férias em Portugal e ainda deu para falarmos um bocado.
Dia 19, 500km,s e o nosso destino era Marrocos, mais precisamente o motel Barbas.
Fiz questão de parar no estádio olímpico de Nouakchott e colar um autocolante da causa "JUSTIÇA PRO BOAVISTA" o meu clube de coração.
Estávamos algo receosos com as altas temperaturas que tão mal nos fizeram na ida, mas tinha que ser e com calma fomos andando
Paramos precisamente no mesmo sitio onde nos tínhamos abrigado do calor, bebemos chá e mais uma vez agradecemos todo o apoio prestado por aquelas pessoas que nos ajudaram numa situação complicada,que felizmente acabou bem.
 Mais uma travessia da terra de ninguém e entramos em Marrocos, sentimo-nos bem, sentimo-nos em casa.
Seguimos para o barbas e comemos um belo tagine,maravilha.
 Dia 20, 350 km,s direcção á bela cidade de Daklha, ficamos alojados no parque de campismo e deu para relaxar um bocado dos muitos quilómetros que já tínhamos no corpo.
 Dia 21, 800 km´s, mais uma grande tirada até El Outia, estadia nuns bungalows bem pertinho da praia e agora como estávamos com um ritmo muito mais relaxado ficamos duas noites.
Para trás ficou o Sahara Ocidental, onde a vida se leva com calma, na estrada só passam alguns camiões de mercadorias,jipes Land Rover Santana, bem carregados com camelos ou cabras, a paisagem varia com deserto e mar, pequenas cabanas de pescadores nas encostas e longas rectas de alcatrão por vezes atravessadas por camelos, são imagens que marcam esta terra e que nos marcam a nós com uma sensação de liberdade enorme.
A passagem pelo cabo Bojador tem sempre um significado especial para todos os portugueses e é sem duvida uma terra mágica.
 Dia 23, 500km´s até Taliouline
Neste tipo de viagem, o mais engraçado é que distâncias de 500km´s fazem-se como se de 50km´s se tratasse, a noção de longe e perto torna-se muito relativa e fica-se com "calo" para andar em frente, apesar de tudo, no regresso a "pica" nunca é igual e as paragens tornam-se mais frequentes.
Como em toda a viagem e porque é assim que gostamos, nunca sabemos ao certo onde vamos passar a noite e neste caso ficamos num hotel onde os únicos hospedes éramos nós.
O hotel ficava numa zona espectacular do Atlas e ainda deu tempo para dar umas voltas pelas redondezas.
Dia 24, 450km´s até algures no meio da montanha a cerca de 80 km´s de Imilchil
 Paragem para almoço na muito turística cidade de Ouarzazate, conhecida pelos seus estúdios de cinema onde foram filmados filmes como Gladiador entre muitos outros.
 O nosso objectivo era passar a noite nas gargantas do Todra, onde já tínhamos passado em 2010 e de preferência num bom hotel, visto que existem muitos nessa zona com bons preços e boa comida.
À medida que íamos andando paramos em muitos hotéis mas seguimos sempre em frente porque queríamos mesmo algo especial, a paisagem é de cortar a respiração e como estávamos armados em esquisitos acabamos acampados no meio da montanha.
  A certa altura o alcatrão acaba e começa uma sinuosa estrada de terra e gravilha e quase de certeza já nos encontrava-mos a mais de 2000 metros de altitude, quando nos deparamos com um rio que estava a começar a transbordar, alguns pastores que lá se encontravam disseram-me que ainda era possível atravessar e seguimos em frente, sempre a subir.
 A determinada altura, com a noite quase a chegar e sem sabermos onde a estrada ia dar, comecei a sentir-me mal, com tonturas e enjoos e decidi voltar para trás rapidamente para encontrar um abrigo, só que quando cheguei novamente junto do rio, já era impossível de atravessa-lo porque entretanto tinha enchido bastante.
Fiquei ainda pior, mas montei rapidamente a tenda enquanto havia alguma luz e passamos a noite no meio da montanha, na escuridão total, sem comida, mas felizmente com alguma agua e tabaco.
Obviamente não consegui dormir e passei a noite a ver se o rio descia de caudal para me pirar dali, mas só foi possível de manha.
 Dia 25, 250 km,s até Er-Rachidia.
Depois de uma noite atribulada no meio da montanha e tirando as circunstancias foi provavelmente um dos sítios mais belos onde acampei, a transalp é que não deve ter achado o mesmo e decidiu começar a trabalhar só com um cilindro, ainda por cima bem carregada e por caminhos de cabras foi complicado chegar até á aldeia mais próxima.
Quando cheguei á aldeia mais próxima do local onde me encontrava conseguimos comer pão e beber leite e como é costume em Marrocos prontamente o "mecanic" local se prontificou para me ajudar, só que depois de ter feito tudo o que sabia (verificar se tinha corrente, mudar velas, limpar carburador,limpar filtro ar,etç), a moto continuava a trabalhar só com um cilindro.
Decidi ligar a um amigo "expert" na matéria e depois de lhe explicar o que se passava disse-me para tirar toda a gasolina que tinha no deposito e colocar nova, e assim foi, quando dei ao start fez-se fumo e a menina já trabalhava a dois cilindros... que alegria que foi.
Depois de comprar umas lembranças e agradecer a ajuda do homem seguimos viagem até Er-Rachidia para nos vingarmos num bom hotel, onde ficamos duas noites.
Dia 27,600 km,s Er-Rachidia - Tanger
Mais uma etapa, desta vez sem grande historia e com passagem quase obrigatória na floresta dos cedros para ver a "macacada".
Dia 28, 950 km,s Tanger - Porto cidade INVICTA
Depois de uma noite tranquila em Tanger tinha chegado a hora do regresso a casa e assim foi numa direta com algumas paragens, entre elas em Olivensa, território português ocupado por Espanha.

 Foram 18 dias de viagem, cerca de 10.000 quilómetros, uma transalp, 2 pessoas e sem duvida uma grande aventura.
Certamente que ficará na minha memoria por muitos anos e quem sabe um dia possa voltar ou andar mais pra frente... julgo que sim desde que se tenha cuidado com as armadilhas.